Textos da Internet

18.11.05

 

«Samurai» internado por 16 anos

Jovem matou mãe e avó com réplicas de espadas e sabres

O Tribunal Judicial de Caminha condenou ontem a 16 anos de internamento em regime fechado, para tratamento psiquiátrico, o jovem que, em Dezembro do ano passado, matou a mãe e avó com réplicas de espadas e sabres da época dos samurais.

O colectivo de juízes deu como provado que o jovem, de 25 anos, é inimputável por sofrer de esquizofrenia paranóide, pelo que lhe atribuiu apenas a prática de homicídio simples, quando a acusação do Ministério Público apontava para homicídio qualificado. A moldura penal de um crime de homicídio simples vai dos três aos 16 anos de prisão, sendo que em caso de inimputabilidade do arguido a prisão é substituída por internamento, a fixar igualmente dentro daquele período temporal. Neste caso, o tribunal decidiu-se pela pena máxima, tendo em conta a gravidade “muito elevada” dos actos praticados pelo arguido, o “fundado receio” de que ele venha a cometer o mesmo tipo de crime, a doença de que ele é portador e ainda o alarme social que os seus crimes provocaram.
O jovem vai cumprir a pena no anexo psiquiátrico do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, onde esteve detido preventivamente à espera de julgamento. Os factos remontam à noite de 7 de Dezembro de 2004, quando o jovem, seguidor fanático dos samurais, desferiu repetidos golpes com três armas brancas à mãe, uma educadora de infância com 53 anos, e à avó, médica reformada de 83 anos, que acabaram por não resistir aos ferimentos. Os cadáveres só foram encontrados dois dias depois, estendidos no chão de um dos quartos, pela empregada doméstica, estando o jovem deitado no seu quarto. Chamada ao local, a GNR encontrou três lâminas cobertas por peças de roupa à entrada do quarto onde jaziam as duas vítimas. Ao ser detido, o alegado homicida ainda agrediu um dos agentes. Num anexo da casa, a que apenas o jovem tinha acesso, foi encontrado um arsenal de armas brancas (espadas, punhais e machados), réplicas de armas utilizadas na Idade Média pelos samurais, a par de armaduras, livros, vídeos e consolas com inúmeras alusões a essa arte oriental.
“Parecia que tínhamos estado num cenário de um filme”, disse em tribunal um dos agentes da Polícia Judiciária, descrevendo um ambiente “obsessivo” existente no anexo.
Segundo aquela força policial, o jovem, sem profissão definida, após abandonar os estudos dedicava quase todo o seu tempo a visionar e a
coleccionar peças da época dos samurais.
 

Jovem condenado pela morte da mãe e avó

Tribunal de Caminha estipulou 16 anos de internamento psiquiátrico

O Tribunal Judicial de Caminha condenou hoje a 16 anos de internamento em regime fechado, para tratamento psiquiátrico, o jovem que matou a mãe e avó com réplicas de espadas e sabres da época dos samurais.


O colectivo de juízes deu como provado que o jovem, de 25 anos, é inimputável por sofrer de esquizofrenia paranóide, pelo que lhe atribuiu apenas a prática de homicídio simples, quando a acusação do Ministério Público apontava para homicídio qualificado. A moldura penal de um crime de homicídio simples vai dos três aos 16 anos de prisão, sendo que em caso de inimputabilidade do arguido a prisão é substituída por internamento, a fixar igualmente dentro daquele período temporal.

Neste caso, o tribunal decidiu-se pela pena máxima, tendo em conta a gravidade "muito elevada" dos actos praticados pelo arguido, o "fundado receio" de que ele venha a cometer o mesmo tipo de crime, a doença de que ele é portador e ainda o alarme social que os seus crimes provocaram.

O jovem vai cumprir a pena no anexo psiquiátrico do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, onde já esteve detido preventivamente desde 9 de Dezembro de 2004, à espera de julgamento.

Os factos remontam à noite de 7 de Dezembro de 2004, quando o jovem, seguidor fanático dos samurais, desferiu repetidos golpes com três armas brancas à mãe, uma educadora de infância com 53 anos, e à avó, médica reformada de 83 anos, que acabaram por não resistir aos ferimentos. Os cadáveres das duas mulheres só foram encontrados dois dias depois, estendidos no chão de um dos quartos, pela empregada doméstica, estando o jovem deitado no seu quarto.

Chamada ao local, a GNR encontrou três lâminas cobertas por peças de roupa num recanto, à entrada do quarto onde jaziam as duas vítimas, e deteve o alegado homicida, que ainda agrediu um dos agentes com um murro.

Num anexo da casa, a que apenas o jovem tinha acesso, foi encontrado um arsenal de armas brancas (espadas, punhais e machados), réplicas de armas utilizadas na Idade Média pelos samurais, a par de armaduras, livros, vídeos e consolas com inúmeras alusões a essa arte oriental. "Parecia que tínhamos estado num cenário de um filme", disse em tribunal um dos agentes da Polícia Judiciária, descrevendo o cenário dos corpos golpeados por objectos "perfurantes e contundentes" e todo um ambiente "obsessivo" existente no anexo utilizado pelo jovem, em que a arte medieval e guerreira oriental estava omnipresente.

Segundo aquela força policial, o jovem, sem profissão definida, após abandonar os estudos dedicava quase todo o seu tempo a visionar e a coleccionar peças da época dos samurais, incluindo consultas através da Internet.

De acordo com o relatório médico apresentado pelo psiquiatra, que o vem acompanhando desde que ingressou no anexo psiquiátrico do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, o jovem sofre de esquizofrenia paranóide, sendo por isso propenso a delírios e alucinações, designadamente auditivas.

Talvez por isso mesmo tenha confessado à polícia que o interrogou "ter ouvido vozes que o impeliam a defender-se, porque se sentia ameaçado". Estes doentes, segundo o clínico, quando se encontram descompensados e sem tratamento, como foi o caso na altura da tragédia, em que passava por uma fase aguda, tornam-se perigosos.

Com Lusa
 

Matou a mãe e a avó

2004-12-10 - 00:00:00

Macabro - Suspeito com perturbações mentais e apaixonado pelo Oriente
Matou a mãe e a avó

Um jovem de 27 anos terá assassinado a mãe e a avó, durante a madrugada de ontem, na residência da família em Seixas, Caminha. As vítimas, que sofreram vários golpes de espada em diferentes partes do corpo, foram encontradas de manhã, pela empregada de limpeza.

Rui Filipe Moreira

Os cadáveres das duas mulheres foram encontrados num dos quartos da casa das vítimas
Segundo apurou o CM, na origem do crime macabro poderá ter estado um desequilíbrio mental momentâneo do suspeito, que foi detido pela GNR no interior da habitação geminada e entregue à PJ de Braga, para interrogatório.

O jovem, que não tem qualquer ocupação profissional e viveu sempre muito fechado em casa, sofre de perturbações mentais e manifesta “uma forte viciação sobre artes marciais e tudo o que diga respeita ao mundo oriental” – de acordo com informação avançada por fonte policial.

As vítimas – ambas de nome Teresa Sampaio, uma professora do Ensino Básico, divorciada, 53 anos, e uma médica reformada com 83 anos – foram encontradas no chão do quarto da avó, ao lado da cama, presumindo-se que a mãe se terá apercebido durante a noite de algo errado, tendo provavelmente deparado com a morte da idosa e sido também assassinada nessa altura.

As autoridades policiais presumem que os golpes fatais tenham sido efectuados com pelo menos uma espada tipo medieval. As mulheres foram mortas com dois a três golpes cada, aplicados de frente. Uma das vítimas apresentava rasgos na cara, no pescoço e no abdómen, enquanto a outra foi golpeada no abdómen e no tórax.

O cenário horrendo foi descoberto pela empregada doméstica, com cerca de 50 anos e residente na freguesia vizinha Gondarém, que alertou a GNR por volta das 09h30. Os cadáveres foram recolhidos na tarde de ontem para a morgue do Centro Hospitalar do Alto Minho, depois de a Brigada de Homicídios da Polícia Judiciária de Braga ter procedido à examinação exaustiva do local do crime.

Apesar de a PJ de Braga ter negado que tenha efectuado qualquer detenção formal, confirmando apenas ter em curso interrogatórios de várias pessoas, o jovem de 27 anos terá admitido o duplo homicídio logo no primeiro contacto com as autoridades policiais. Os agentes da PJ recolheram três espadas de tipo medieval que poderão ter sido usadas no crime, já que uma delas aparentava ter tido sangue.

As autópsias aos cadáveres deverão ter lugar hoje, na delegação do Instituto de Medicina Legal em Viana, em que se procurará precisar a arma usada e a hora a que os crimes foram praticados.

MULHERES MUITO RESPEITADAS

A mãe e a avó Teresa Sampaio eram muito respeitadas na freguesia de Seixas, próxima da vila de Caminha. Já o jovem suspeito dos crimes era quase desconhecido. Apesar de ser uma família muito reservada, a população manifestou ontem “uma grande admiração e respeito” tanto pela professora como pela médica reformada.

“Eram duas senhoras muito simples e simpáticas”, atestou ao CM a vizinha Rosa Araújo, empregada do pequeno supermercado local, acrescentando que “o rapaz era muito parado e nunca dizia nada”. Adiantou que o jovem terá ficado bastante perturbado após a separação dos pais. Maria Sousa e António Araújo confirmaram os sentimentos positivos em relação às vítimas – até porque a avó era uma médica conceituada pelos serviços prestados às pessoas da terra –, mas garantiram desconhecer o jovem suspeito dos homicídios.

Na freguesia, ninguém escondia ter ficado horrorizado com a crime macabro, lançando mesmo suspeitas de actos satânicos. “Anda uma mãe a criar um filho para uma coisas destas. Estou de cama e ainda fiquei mais doente”, comentou Teresa Esteves.

MEMÓRIAS

FIXAÇÃO ORIENTAL

O quarto do jovem suspeito do duplo homicídio – que estaria sob acompanhamento médico psiquiátrico – está repleto de material ligado ao mundo oriental e a artes marciais, como espadas, armaduras, gravuras, objectos de adorno e livros. Um colega de escola confirmou a “fixação” do suspeito “por coisas do Oriente”.

CRIME HÁ 24 ANOS

Várias pessoas de Seixas lembraram que na quarta-feira, Dia de Nossa Senhora, “fez 24 anos que nesta freguesia uma mulher matou o marido”, evidenciado o forte impacto provocado pelo crime de ontem e que levou centenas de populares até junto da habitação das vítimas, no lugar de Coura.
Mário Fernandes (Braga)
 

Mortes terríveis

004-12-11 - 00:00:00

Macabro - Suspeito de Caminha em prisão preventiva
Mortes terríveis

Não vai dar para esquecer. É um horror. Muito horror. Pelo banho de sangue que estava ali dentro, as senhoras tiveram umas mortes terríveis”, afirmou ontem ao CM Maria do Céu Martins, a empregada doméstica que anteontem descobriu os corpos das duas mulheres mortas com uma espada, pelo filho e neto das vítimas, em Seixas, Caminha. Por decisão judicial, o suspeito vai aguardar julgamento em prisão preventiva e sob acompanhamento psiquiátrico.

Rui Moreira

Maria do Céu Martins considera-se uma mulher de sorte por ter escapado ao banho de sangue
Ainda em visível estado de choque, Maria do Céu diz-se que até se sente “uma mulher de sorte”, por ter escapado ao banho de sangue. “Como normalmente, entrei em casa por volta das 09h00 e subi as escadas duas vezes, mas só à terceira vez é que descobri os corpos no quarto da ‘doutora’, uma ao lado da outra vestidas com a roupa de dormir, num imenso lago de sangue. Foi terrível. Telefonei ao meu marido e fomos à GNR de Caminha dar conta do sucedido. Quando voltámos é que soube que o rapaz ainda estava no quarto dele”, descreveu, dando conta que o suspeito se manteve sempre muito calmo até à chegada das autoridades.

Nessa altura, a empregada confrontou o jovem aos gritos dizendo-lhe que “ele tinha matado a mãe e avó”. Então, “o rapaz ajoelhou-se e começou a chorar”, revelou Maria do Céu.

A dimensão da tragédia nunca lhe tinha “passado pela cabeça”, mas garante que já várias vezes havia alertado as patroas para os desequilíbrios do jovem – fascinado em jogo de luta de computador e artes marciais, ostentava cinturão preto e detinha uma infindável colecção de espadas.

Apesar de ser educadora de infância, a mãe do suspeito – divorciada e com 53 anos de idade – terá mimado em demasia o filho, Lopo Jr. Sampaio Silveiros, com 25 anos e forte compleição física. “A mãe dava-lhe de tudo; estavam sempre a chegar espadas a casa e outras coisas de artes marciais que ele encomendava por internet”, referiu aquela que era empregada doméstica das vítimas desde há 13 anos, ainda elas residiam na Quinta de Gouvim, na freguesia de Gondarém.

Maria do Céu – de 53 anos e casada com um reformado da Brigada Fiscal da GNR – adiantou que “era tanto o material e as espadas, incluindo algumas que diziam ser de reis ou iguais, que a mãe até fez para o rapaz uma casinha ao lado da habitação, onde ele lutava sozinho e jogava computador, passando assim quase todo o dia”.

Os desequilíbrios do jovem – que frequentou uma escola de kung-fu em Viana do Castelo – começaram a ser demasiado evidentes, mas a mãe e a avó – ambas chamadas Teresa Sampaio – desvalorizaram sempre a situação: “Elas diziam que não havia problema, que ele não era violento e que era tudo uma brincadeira dele”.

"ESTAVA A SER PERSEGUIDO E TIVE DE LUTAR"

“Estava a ser perseguido e tive de lutar para me defender”. Foi a explicação avançada pelo jovem Lopo Silveiros quando a Polícia Judiciária entrou na casa geminada de Seixas, Caminha, onde se encontravam os corpos golpeados da mãe e da avó do suspeito, com uma espada medieval e uma lâmina com cerca de 50 centímetros. Tal como noticiou ontem o CM, as vítimas apresentavam golpes na garganta, no tórax e no abdómen. A afirmação do suspeito aos agentes da PJ reflecte os problemas psíquicos que o afectavam, por alegadamente se dedicar excessivamente a jogos de computadores e artes marciais, levando situações fictícias para o seu dia-a-dia. Segundo a empregada doméstica Maria do Céu Martins, o jovem “criava diálogos sozinho, em inglês, e estava a sempre a lutar, porque os outros eram mais fortes e ele tinha de os vencer”, acrescentando que “às vezes acordava à gargalhada, outras vezes dava gritos muito altos”.

Apesar disso, diz que não considera como deficiente mental o jovem suspeito do duplo homicídio – que fez o 12.º ano e nunca trabalhou, estando sem ocupação desde os 18 anos, ao encargo da mãe e da avó –, mas sublinha que “perfeito não era, porque pelas coisas que fazia não podia ser uma pessoa normal”. “O rapaz nunca me fez mal, mas já muitas vezes o meu marido e os meus filhos me tinham dito para deixar esta casa, só que eu nunca o consegui fazer, porque tinha muito amor às senhoras e a ‘doutora’ precisava muito de mim”, adiantou.

A empregada sublinhou que o jovem era muito calado quando andava com a mãe ou a avó na via pública e não tinha amigos, porque vivia muito concentrado no seu mundo dos jogos de computadores e artes marciais.

VIDA DE FAMÍLIA

RESIDÊNCIA

A família do suspeito dos crimes de Seixas residia na Casa de Gouvim, em Gondarém. Só há três anos se decidiu pela venda do imóvel e passou a viver na casa geminada do lugar de Coural, na freguesia vizinha.

EDUCADORA

A mãe de Lopo era educadora de infância em Lovelhe, Vila Nova de Cerveira. Vários populares mostraram-se emocionados e transtornados com a tragédia, limitando-se a repetir que “a ‘professora’ era grande senhora, muito simpática”

MÉDICA

A avó de Lopo, de 83 anos, havia sido médica no Centro de Saúde de Vila Nova de Cerveira e na Casa do Povo de Lanhelas (freguesia vizinha de Seixas). “Nunca estava cansada para atender as pessoas, e eram muitas as consultas grátis”, garantiu Maria do Céu Martins.

CARTA

Lopo tinha carta de condução. “Tirou à primeira”, afirmou Maria do Céu, lembrando que era ele que conduzia o Fiat Punto quando a família saía.

APETITE

O jovem tinha um “apetite anormal”. Segundo a empregada, “era daquelas pessoas de quem se pode dizer que vivia para comer e valia tudo, desde bolos e chocolates à comida da cozinha tradicional”. No entanto, o jovem tinha decidido, “há dois dias, fazer dieta e quase deixou de comer”.
 

Homicida leva 16 anos

Caminha: matou a mãe e a avó a golpes de espada
Homicida leva 16 anos

O Tribunal de Caminha condenou a uma pena de 16 anos de prisão, Lopo Júnior Sampaio Silveiros, que em 7 de Dezembro do ano passado matou a mãe e a avó com duas réplicas de espadas medievais.

Rui Filipe Moreira

7 de Dezembro do ano passado: o cadáver de uma das vítimas de Lopo Júnior é retirado de casa, em Caminha
Por sofrer de esquizofrenia paranóide, o indivíduo, agora com 26 anos, foi considerado inimputável e, como tal, foi condenado ‘apenas’ pela prática de um homicídio simples, cuja pena máxima é precisamente de 16 anos de cadeia.

INTERNAMENTO

Na leitura do acórdão, o presidente do colectivo de juízes, salientou que esta condenação tem “um objectivo terapêutico e determinou o internamento do arguido na ala psiquiátrica do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo.

“O objectivo é recuperar, na medida do possível, este jovem que, como ficou provado, sofre de graves perturbações mentais”, disse o magistrado.

CENÁRIO DE TERROR

A morte, a golpes de espada, das duas mulheres, uma médica reformada, com 83 anos e a sua filha, uma educadora de infância, com 53, respectivamente avó e mãe do homicida, chocou a população da freguesia de Seixas, concelho de Caminha.

A empregada doméstica, Maria do Céu Martins, que descobriu os corpos dois dias depois, descreveu ao Correio da Manhã um cenário de horror e violência.

“Pelo banho de sangue que estava lá dentro, as senhoras tiveram umas mortes terríveis”, disse a empregada, sublinhando que “as vítimas tinham vários golpes na garganta, no peito e na barriga”.

Para concretizar o crime, o rapaz utilizou duas espadas de características medievais, com uma lâmina de cerca de 50 centímetros, que faziam parte da sua colecção de espadas.

CINTURÃO NEGRO DE KUNG-FU

Maria do Céu Martins, que trabalhava na casa das “senhoras” há 13 anos, já várias vezes tinha chamado à atenção da mãe e da avó para o comportamento “bastante violento” de Lopo Júnior.

“Ele passava a vida em frente ao computador, em jogos de luta e de guerra e recebia quase todos os dias novas espadas, que comprava pela internet, que a mãe até lhe construiu um anexo para ele colocar a sua colecção”, disse a empregada.

Mas não era apenas para coleccionar que Lopo Júnior pretendia as espadas: ele é cinturão negro em Kung-fu e um “grande apaixonado pelas artes marciais”. No anexo da casa, para além das espadas, o homicida tinha também muito material de treino relacionado com as artes marciais. No dia em que foi detido, agrediu a murro um militar da GNR.

"ESTAVA A SER PERSEGUIDO E TIVE DE LUTAR"

“Estava a ser perseguido e tive de lutar para me defender”. Foi a explicação avançada por Lopo Júnior Silveiros quando a Polícia Judiciária de Braga entrou na casa de Seixas, onde ele vivia com a mãe e a avó. A explicação dada aos agentes da PJ reflecte os problemas psíquicos que o afectavam: acreditava, frequentemente, estar a viver situações irreais relacionadas com os jogos de computador e artes marciais, para o seu dia-a-dia. Ao que apurámos, o homicida agora condenado falava sozinho, quase sempre em inglês, e estava sempre a lutar, porque, dizia, “os outros eram mais fortes e tinha de os vencer”. Considerado pela comunidade um rapaz “recatado”, Lopo tinha o 12.º ano de escolaridade e era ele que habitualmente conduzia o carro da família.

BOAS PESSOAS

EDUCADORA

A mãe de Lopo era educadora de infância em Lovelhe, Vila Nova de Cerveira. A tragédia emocionou as crianças e os pais, já que “a professora” era tida por todos como “pessoa querida e muito simpática”.

MÉDICA DO POVO

A avó, Teresa Sampaio, de 83 anos, tinha sido médica de família no Centro de Saúde de Vila Nova de Cerveira e na Casa do Povo de Lanhelas, em Caminha. “Nunca estava cansada e raramente levava dinheiro”, diz quem a conheceu.

DIETA RADICAL

Para além da obsessão pelas artes marciais, o jovem tinha “um apetite anormal”. Diz quem com ele convivia, que Lopo “era daquelas pessoas que vivia para comer”. No entanto, dois dias antes do crime, tinha decidido fazer uma “dieta radical” e praticamente tinha deixado de comer.
Secundino Cunha, Braga

15.11.05

 

Para acabar com o cinema

Pensar o cinema português sem ter em conta a televisão? Impossível

Foi divulgado esta semana um estudo sobre o cinema que se faz em Portugal. Desenvolvido pela Universidade Lusófona, por encomenda da Associação de Produtores de Cinema, com apoio do ICAM, intitula-se "O Cinema Português e os Seus Públicos Situação Actual e Evolução Futura". Não duvido da seriedade e do espírito construtivo do estudo. Mas não posso deixar de reagir às notícias que o divulgaram. Escrevo, sobretudo, a partir da mensagem que, de acordo com tais notícias, o estudo autoriza. A saber: que os problemas do cinema português radicam na sua dificuldade de identificação com o público e na indiferença que, quase sempre, acompanha a sua existência (leia-se: a estreia dos respectivos filmes).

Gostaria que estas breves linhas não servissem para relançar os mais miseráveis equívocos que, historicamente, têm acompanhado o cinema português, a começar pelo problema da sua maior ou menor adequação ao "gosto" do público. Por mim, há décadas que acredito em duas coisas básicas primeiro, na necessidade de favorecer a diversidade criativa aliada à racionalidade financeira; segundo, na importância de criar e, sobretudo, manter estratégias inteligentes de promoção. Para além disso, consagrar a utilização de adjectivos como "depressivos" ou "teatrais" na avaliação dos filmes portugueses parece-me um luxo sociológico (?) que, mesmo com chancela universitária, só pode servir para não enfrentar as profundíssimas questões culturais que estão em jogo.

Que questões culturais? Uma, desde logo chama-se televisão e, a não ser que todas as notícias tenham sido feitas de má-fé, parece ser o grande tabu deste estudo.

De facto, desde o aparecimento das telenovelas na sociedade portuguesa, há quase 30 anos, verificou-se uma transformação radical dos padrões dominantes de ficção audiovisual. Julgar que é possível analisar seja o que for do cinema português (da economia às linguagens) como se o imenso poder normativo da teleficção não existisse, é lançarmo-nos todos, alegremente, num poço sem fundo das boas intenções.

Repare-se longe de mim negar que a relação público/cinema português está longe de ser um mar de rosas. Não se trata sequer de "ilibar" os filmes, sejam eles quais forem, de uma parte importante das dificuldades e impasses dessa relação. Mas tentar defender o cinema português como se ele existisse num contexto alheado das convulsões mediáticas do nosso presente só pode redundar num esvaziamento das questões culturais de fundo. Porque a alternativa é muito clara: promover a especificidade cinematográfica ou, então, consolidar uma sociedade de ficções que, também no cinema, só poderão ir tendendo para o padrão da telenovela. Não haverá depressões nem teatralidade. Será tudo mais simples porque, em boa verdade, também já não haverá cinema.
João Lopes
 

O 'cinema português' (2)

pedro Mexia
pedromexia@gmail.com

O estudo sobre o cinema português elaborado pela Universidade Lusófona para a Associação de Produtores de Cinema e o ICAM (que o DN noticiou) confirmou apenas o que há muito sabemos que o público "não se identifica" com os filmes portugueses e os acha "teatrais" e "deprimentes".

Mas essa ideia (totalmente legítima) só se adequa minimamente a sete ou oito nomes do cinema português, aos cineastas conhecidos no circuito dos festivais e que as pessoas detestam quase por automatismo. Acontece que "o cinema português" é também José Fonseca e Costa, António-Pedro Vasconcelos, Joaquim Leitão, Leonel Vieira e outros que com certeza não contam entre os seus defeitos serem "teatrais" e "deprimentes". São cineastas que assumidamente se preocupam com o gosto maioritário, e sobre os quais não faz sentido que se diga o que se diz dos cineastas assumidamente minoritários. Como escrevi ontem, o que domina é uma caricatura, que não corresponde qualitativamente nem quantitativamente aos factos.

Depois, há outra questão a diversidade da criação e a diversidade dos públicos. É que assim como não há um tipo único de sensibilidade nos cineastas, também não existe um único público mas diferentes públicos com gostos diversos. Há um público mais numeroso (mas ainda assim insuficiente) para filmes mais comerciais. E há um público mais reduzido (e às vezes ínfimo) para filmes mais exigentes. É assim em todo o lado e em todas as manifestações culturais. As guerrilhas de hegemonia ou de extermínio são por isso patéticas.

Deixemos por agora a azeda polémica dos apoios estatais ao cinema. E sublinhemos um aspecto que João Lopes aqui lembrou na edição de domingo que há trinta anos que experimentamos "uma transformação radical dos padrões dominantes de ficção audiovisual", transformação essa que redundou no "poder normativo da teleficção no cinema". Ao pé das novelas, naturalmente que tudo é lento e tudo é chato; mas queremos realmente que o modelo do nosso cinema seja a superficialidade humana e estética da novela? Será que "o cinema português" só vai agradar ao "público" quando se tornar num imenso Morangos com Açúcar?
 

O 'cinema português' (1)

Pedro Mexia
pedromexia@hotmail.com

Quando as pessoas fazem pouco de um objecto a que chamam sem hesitações "o cinema português", faço sempre esta pergunta inconveniente que "cinema português" é esse? É Vale Abrãao ou Zona J? As comédias de Cunha Telles ou a escuridão de Pedro Costa? Fernando Lopes ou Fernando Vendrell? Branca de Neve ou Adão e Eva? João Botelho ou Balas e Bolinhos? Bem sei a verdade estraga a caricatura, e a caricatura dá sempre tanto jeito numa discussão. E a verdade é esta: não há um cinema português. O que há é uma tentativa de circunscrever um núcleo de cineastas mais difíceis e mais "lentos" (crime gravíssimo) e dizer que isso é todo o cinema português.

Os próprios cineastas têm responsabilidades. Quando se entrincheiram em duas associações, uma que defende a arte como se o cinema não fosse uma indústria e outra que defende a indústria como se o cinema não fosse uma arte, os cineastas fazem figuras tristes, uns na sua pose de imaculados artistas incompreendidos, outros de lápis na orelha como honestos merceeiros. Acontece que de vez em quando aparecem filmes que recusam essas gavetas do cinema de autor tristonho ou da produção comercial mais ou menos televisiva. Um exemplo onde se situa um filme pessoal mas comercialmente apelativo como O Milagre Segundo Salomé, de Mário Barroso? Eis um filme que se reconhece como arte e indústria e que não se acantona com azedume nos extremos caricaturais na nossa cinematografia.

Mas vamos a esses extremos e a essas caricaturas. Que existe uma tendência soturna no cinema português é um facto. Do qual não decorre nenhum juízo. Eu sou o primeiro a não me rever nalgum miserabilismo; e no entanto não posso negar que Ossos ou Os Mutantes são filmes inquietantes, poderosos e com uma seriedade intelectual que nada tem a ver com o telelixo que nos servem todos os dias. Eu posso achar que João Mário Grilo tem menos sentido de humor que Bento XVI; mas não posso negar que O Processo do Rei tem uma das análises históricas mais pertinentes (mesmo na sua crueldade) ao nosso passado. Eu posso achar que Manoel de Oliveira não é um génio; mas sei também que não é um imbecil como os imbecis que o insultam.

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